quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Parâmetro geral da influência do capitalismo na alimentação


O capitalismo é definido como um sistema econômico de mercado, com ou sem influência forte do Estado, que tem o lucro como objetivo final. Este sistema rege, hoje, as relações econômicas de todo o planeta. Assim, todas as áreas em que é possível obter lucro são influenciadas e, até mesmo, dominadas pelo capitalismo. Sendo a indústria de alimentos muito lucrativa, você já parou para pensar em como esse regime econômico influencia sua alimentação? 

Há cerca de trezentos anos, à época do modo de produção feudal, a humanidade se alimentava de mais de 500 espécies vegetais diferentes. Com a revolução industrial, esse número reduziu para 100 tipos diferentes de alimentos e, hoje, temos o cardápio mundial baseado em poucos gêneros alimentícios, como: soja, feijão, cevada, arroz, milho e mandioca. Isso ocorre, pois a produção de bens alimentícios é dominada por poucas (se considerado o âmbito mundial) empresas agro-alimentares transnacionais, como Bungue, Cargill, Syngenta, entre outras. 

Esses grandes empreendimentos implantaram a mecanização e a industrialização da produção, fabricando em larga escala e, para isso, necessitando utilizar-se de agrotóxicos e transgênicos, acessórios que podem trazer sérias consequências para a saúde da população. Essa produção em larga escala tem considerável menor custo e acaba por ofuscar e acuar a agricultura familiar, que produz alimentos muito mais saudáveis e naturais. Isso faz com que a sobrevivência dos que ainda persistem nesta se torne cada vez mais difícil, diminuindo ainda mais as opções alimentícias da população.

Acompanhando este processo, as mudanças no cenário social, como a entrada da mulher no mercado de trabalho, fizeram com que se valorizasse a facilidade e rapidez de acesso a alimentos, já que a maioria das refeições passou a ser feita fora de casa. Surgiram, então, as chamadas "fast-food's", redes de restaurantes que fornecem comida de maneira rápida, o que se adapta completamente a nova rotina da sociedade. O problema desses alimentos é sua péssima composição nutricional. Eles possuem elevados índices de gordura e colesterol, o que pode aumentar os níveis de colesterol e triglicérides no sangue, causando uma maior suscetibilidade a doenças cardíacas. Além disso, a grande quantidade de sódio nos mesmos pode levar a uma sobrecarga dos rins e ao aumento da pressão arterial. Concomitantemente, o excesso de calorias ingeridas através deles faz com que se acumule triglicérides nos adipócitos, como reserva energética, processo que em demasia leva à obesidade. Esta condição que pode acarretar diversas outras enfermidades, como diabetes, hipertensão, AVC, entre outras. 

Como exemplo dessa relação intríseca entre a alimentação e algumas doenças, tem-se uma pesquisa, que foi realizada em município do estado de São Paulo, com o objetivo de analisar a dieta habitual e fatores de risco para doenças cardiovasculares. Uma das observações feita foi que 25% da população ingeria mais de 334 mg colesterol por dia. A relação ácidos graxos poliinsaturados/saturados (PS) foi de 1,20, sendo que 25% da amostra apresenta um valor menor que 1,1. Esses resultados evidenciaram que cerca de 25% da população consomiam dietas aterogênicas, ou seja, com altos teores de lipídios e ácidos graxos saturados. Esses dados foram relacionados ao alto indice de pessoas com obesidade na população pesquisada, tirando dai a relação de causa e consequência entre dieta e fatores de risco para doenças cardíacas.

Vimos aqui apenas uma introdução à influência do capitalismo na alimentação do homem. Grande parte dos assuntos introduzidos, como a modificação da agricultura causada pelo capitalismo e as doenças decorrentes de alimentação não saudável, serão discutidos mais especifica, larga e bioquimicamente em postagens subsequentes. 

Referências:

CERVATO, A. M. [et al]. Dieta habitual e fatores de risco para doenças cardiovasculares. Rev. Saúde Pública, 31(3):227-35. São Paulo, 1997. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v31n2/2200.pdf. Acessado em: 01 set. 2014.
 
STÉDILE, J. P. Capitalismo e política alimentar: o mundo não pode ser um grande supermercado. São Paulo, 2013. Disponível em: http://www.servicioskoinonia.org/agenda/archivo/portugues/obra.php?ncodigo=446. Acessado em: 01 out. 2014.
 
VIANA, N. Contradições do Modo de Produção Capitalista de Alimentos. Revista da Faculdade Estácio de Sá de Goiânia SESES - GO, VOL. 01, Nº 04. Set. 2010/Dez. 2010. Disponível em: http://informecritica.blogspot.com.br/2011/04/contradicoes-do-modo-capitalista-de.html. Acessado em 02 out. 2014.



10 comentários:

  1. De fato, o processo de massificação social imposto pelo capitalismo tem-nos dado sérias dores de cabeça. Principalmente pelo fato de que, sociologicamente falando, estamos presos às amarras sociais, em que buscamos sempre nos aproximar do padrão ideal. O que não é diferente com a nossa alimentação.
    Se nos alimentamos de forma inadequada ou prejudicial, isso nada mais é que o reflexo de uma vida voltada ao mercado de trabalho, às demandas do capitalismo. Um exemplo disso é o próprio "fast food", que surgiu como alternativa para um número cada vez mais crescente de pessoas que não podem alimentar-se em casa, e que recorrem a lanchonetes ou restaurantes de comida rápida.
    Mas claro, há um preço a se pagar. Sobretudo, por conta do alto consumo de lipídeos e açúcares que estão presentes nestes alimentos, bem como a ingestão de substâncias prejudiciais, como os conservantes (que dão cor aos alimentos e bebidas) e os nitritos (presentes, por exemplo, nas salsichas e enlatados).
    Para tanto, é necessário que se busque nos intervalos de tempo (raríssimos!) preparar comidas saudáveis e balanceadas, pratos coloridos, de preferência!
    Como caso de saúde público, é imprescindível que a força de vontade seja a alavanca matriz para a restauração dos velhos hábitos alimentares, evitando produtos conservados e industrializados, bem como distribuindo nas refeições diárias quantidades adequadas de carboidratos, proteínas, lipídeos, sais minerais e vitaminas.

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  2. O capitalismo, que não é apenas um modelo econômico, mas um estilo de vida que claramente está presente nas nossas escolhas alimentares. Com o objetivo de tornar tudo mais rentável e rápido, a indústria alimentícia artificializa até os alimentos que um dia o homem comeu de uma forma natural, como frutas, verduras e cereais que hoje vem ensacados ou cheios de fertilizantes. Pratos especiais que antes eram preparados em casa, "receita da vovó", estão vindo enlatados e já, em parte, cozinhados só para requentar no micro-ondas, como podemos ver no supermercado. Não se trata apenas de "fast food", mas de uma alimentação diária de conservantes, alimentos ricos em sódio e falta dos nutrientes que haveriam em uma alimentação mais natural. É por isso que o problema da saúde no mundo moderno são as doenças crônicas com diabetes, problemas cardiovasculares, câncer, doenças diretamente ligadas a alimentação. Faltam principalmente alimentos reguladores, que são aqueles que ajudam na regulação da funções fisiológicas do organismo, como a visão, a digestão, o fortalecimento do sistema imunológico por exemplo, isso é exercido principalmente pelas vitaminas, sais minerais e fibras - nutrição encontrada em cereais integrais, mostarda, frutas.

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  4. Como é típico do capitalismo, prevalece a ideia de mercantilização. Os alimentos foram rebaixados à condição de mercadoria e é assim que são vistos ou tratados pela sociedade que vive e que alimenta o sistema. Hoje a ideia de soberania alimentar, em que cada um tem o direito de produzir seus próprios alimentos, está ficando cada vez mais utópica. Os camponeses produzem hoje de forma complementar e estão subordinados as transnacionais da agroindústria que comandam a produção e a distribuição de alimentos. O mundo globalizado exige das pessoas tempo, tempo para servir, para trabalhar, para ganhar salário, para dar lucro e, seguindo essa lógica de pensamento, a saúde e a preocupação com o que se come fica em segundo plano. A solução, talvez fosse, a transformação radical e completa das relações sociais, produzindo uma nova forma de produção de bens materiais e alimentos. Isto geraria uma situação na qual a coletividade conseguiria produzir e distribuir os meios de sobrevivência de forma igualitária e sem interesses capitalistas em seu processo. Finalizando, o tema se mostra muito interessante, ao passo que agrega o âmbito social também gera muitas discussões em torno do assunto e a forma como foi mostrada esse parâmetro geral de influência do capitalismo foi feita de maneira muito clara e objetiva, explanando pontos importantes da temática.

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  5. Bastante interessante as informações sobre a diminuição, com o decorrer dos anos, em mais de 100% da variedade de alimentos. Isso porque o capitalismo, como modo de organizar a produção, a distribuição dos bens e a vida das pessoas baseada no lucro e na exploração, tomou conta de todo o planeta. E os alimentos foram reduzidos à mera condição de mercadoria. O único objetivo dos paises atualmente é o poder, independente dos meios para se chegar nele, logo, para tornar mais rentável e rápido, as empresas alimentícias optam por utilizar agrotóxicos e transgênicos nos alimentos por exemplo. É também importante observar que a alimentação da população atual é de péssima composição nutricional, possuem elevados índices de gordura e colesterol, uma grande quantidade de sódio, que causam sérias doenças como a obesidade e as cardiovasculares, porém são as mais rentáveis, principalmente os produtos de cadeias como McDonald's. Logo, do ponto de vista dos lucros da indústria alimentar, a obesidade é o melhor sinal de êxito. Enfim, um tema muito importante para ser tratado, e nesse post foi bem abordado, com uma linguagem clara e explicativa. Aguardando novas postagens!!

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  6. O capitalismo é um sistema econômico que rege a maior parte dos países e, consequentemente, das pessoas do mundo, e por ter o lucro como seu objetivo maior, acaba influenciando os mais diversos ramos da indústria, inclusive a alimentícia, que vem, nos últimos anos, como muito bem mostrou o texto, restringindo a diversidade de alimentos vegetais, fato que é decorrente da dominação de poucas empresas agro-alimentares, que subjugam a produção normal, na medida em que querem produzir mais em menos tempo, e acabam, como consequência, se usando de agrotóxicos e transgênicos. Esses acessórios que trazem sérias consequências para a saúde da população, podendo provocar náuseas, tonturas, dores de cabeça ou alergias, e até lesões renais e hepáticas, cânceres, alterações genéticas e doença de Parkinson, sendo que esta última é, bioquimicamente, causada pela degeneração dos neurónios produtores de dopamina, um importante neurotransmissor para a coordenação motora. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, as refeições em muitos países começaram a serem feitas fora de casa, e como a ordem maior é “buscar lucro”, cada vez mais e em menos tempo, isso concedeu o alicerce para as instalações dos “fast-food's”, que por sua vez, devido ao alto teor de gordura de seus produtos, ocasionam obesidade, diabetes, hipertensão, AVC, entre outros doenças. No âmbito desse tipo de negócio, o governo brasileiro fez algumas melhorias, para garantir que a população fosse informada do que está comendo, sendo uma delas, a lei 14.677, que obrigou todas as redes de fast food do Estado de São Paulo a informar aos consumidores as tabelas nutricional e calórica das refeições, sob a multa, no caso do descumprimento, de 7 mil reais. Esse foi um primeiro passo, talvez, para a construção de um pensamento popular de alimentação mais saudável. Aguardo novas publicações.

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  7. O uso de agrotóxicos, transgênicos e técnicas modernas de plantio priorizam a produção em massa em detrimento da qualidade dos alimentos, visando o capital. As pessoas costumam aceitar essas modificações, apesar de poderem ter a saúde prejudicada, por resultarem em menores preços de alimentos e serem influenciadas pela mídia. Em Teresina, por exemplo, verificou-se um grande aumento da demanda por refeições fora de casa, tendo como motivo principal a PEC das Domésticas, que ampliou os custos para quem comia em casa e não tinha tempo de preparar alimentos. Assim, nossa nutrição é em grande parte controlada pelos custos, o que geralmente aponta para os interesses do capitalismo.

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  8. Postagem bem expositiva Marina. Que o capitalismo influência e muito a produção de alimentos e a forma como ele são consumidos é um fato incontestável. No decorrer dos anos, como nos comentários acima e tomando a postagem como referência, foi possível realmente observar a diminuição do número de culturas, no entanto discordando em grande parte dos colegas, que veem o capitalismo como mola satânica mestre responsável por todos os males que assolam a humanidade, que existiam antes mesmo dele surgir, e guardando as proporções, em pior magnitude, o que acontece é que o capitalismo é a mola propulsora do mundo, e não há quem o diga o contrário embasado em um argumento consistente, sim é claro, se teve uma diminuição no número de culturas, mas se conseguiu suprir a demanda, os transgênicos aumentaram a produção, os agrotóxicos tem seu efeito nocivo em larga escala, mas controla as pragas da lavoura e as técnicas modernas de plantio impulsionam ainda mais a produção. Todos somos movidos por isso e não vejo como lavouras familiares suportariam sozinhas toda a produção para uma grande população como a nossa, por isso deve atuar em conjunto com os grandes produtores, além é claro evitando o racionamento e mantendo o preço estável e permitindo o acesso a alimentação das classes menos favorecidas, não se esqueçam da crise do tomate a peso de ouro.
    Quanto ao tocante da alimentação o capitalismo sujeita o homem ao produto industrializado que como exposto, carrega diversas substâncias nocivas que interferem no organismo, a falta de tempo e a praticidade leva as pessoas a comerem fora de casa em fast-foods, restaurantes e os famosos lanches de padaria ou da rua, ricos em gordura e ingredientes de procedência duvidosa... Mas temos aí uma questão de educação alimentar, que cabe ao individuo, se a quantia gasta em um restaurante é a mesma em um fast-food, então porque escolhe o caminho mais gorduroso?

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  9. Definições a parte, o capitalismo é o modelo mundialmente aceito para o sucesso e prosperidade, e como não há algo 100% benéfico, ele trouxe consigo algumas condições que geram grandes problemas a serem sanados em um grau de amadurecimento da sociedade que ainda não chegamos, como o problema alimentício, a violência e consumo desenfreados, os poluentes, dentre outros.
    Em contraste ao que foi salientado pelo Naylson, pesquisas apontam que o lixo produzindo mundialmente, seria capaz de sanar o problema da fome mundialmente e ainda restariam substratos que permitem alimentar novamente outra parcela da população, possibilitando um questionamento acerca dos níveis adequados de produção, que embora em maior quantidade, perdemos a qualidade dos alimentos que não são mais naturais e sim artificiais, pela quantidade de agrotóxicos, fertilizantes utilizados na produção. Será se é mais interessante pensar em produzir mais com maior número de doenças ou produzir menos com qualidade nutricional ???
    Outro enfoque pode ser dado ao que o capitalismo proporciona um ritmo frenético de vida muito caro, e caro em vários sentidos. Pesquisa feita este ano em São Paulo, revela que comer fora de casa é mais caro que a alimentação feita em próprio domicílio, isso sem explorar o fator que as doenças desencadeadas pela alimentação inadequada pode gerar a um indivíduo, como em consultas médicas, medicamentos, terapias alternativas, etc.
    Seria o caso de poupar tempo de ritmo frenético e ganhar tempo de qualidade de vida ou continuar a alimentar um ciclo vicioso de trabalho ???
    Fica a reflexão sobre o capitalismo exploratório!

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