Discutiu-se, até o momento,
algumas ferramentas da produção em massa de alimentos (agrotóxicos e transgênicos),
utilizados para o aumento da eficácia da fabricação de alimentos. Viu-se,
também, como os mesmos tem sérias consequências para o organismo. Hoje,
falaremos de um fenômeno que vai no sentido contrário à massificação da
produção: o cultivo de alimentos orgânicos, atrelado à agricultura familiar.
Os alimentos orgânicos são
definidos como aqueles alimentos in natura ou processados que são
oriundos de um sistema orgânico de produção agropecuária e industrial. A
produção de alimentos orgânicos é baseada em técnicas que dispensam o uso de
insumos como pesticidas sintéticos (agrotóxicos), fertilizantes químicos,
medicamentos veterinários, organismos geneticamente modificados (transgênicos),
conservantes, aditivos e irradiação. O controle de uma grande safra se torna
mais difícil sem os insumos citados, por isso esse tipo de produção geralmente
é feito quando em menor escala, daí a ligação entre agricultura familiar e o
cultivo de orgânicos.
Fonte desses alimentos mais
saudáveis, a agricultura familiar pode ser a chave para mudar o atual cenário
de consumo de alimentos congelados, fast food, frituras e refeições ricas em
sódio. E por causa da importância desse setor, 2014 foi declarado pela ONU como
o Ano Internacional da Agricultura Familiar, com o objetivo de aumentar a
visibilidade ao setor, já que ele contribui para a erradicação da pobreza e da
fome, promove a segurança alimentar e nutricional, melhora os meios de subsistência
e colabora na gestão dos recursos naturais.
Têm-se como ponto negativo para o
consumo dos alimentos orgânicos o preço ainda alto, correspondente a 20 a 100%
a mais que os produtos de origem convencional. Aspectos relativos à
comercialização precisam ser analisados no sentido de impulsionar a
comercialização dos orgânicos, já que o preço dificulta a acessibilidade. É
preciso, entre outros, entender o confronto entre o grande circuito de
comercialização (o de supermercados) e os circuitos curtos (de feiras e venda
direta).
O grande circuito impõe ao
agricultor barreiras como a padronização e a incorporação de serviços aos
produtos (uso de embalagens plásticas ou isopor), contratos regulares de
entrega (nem sempre possíveis em função da sazonalidade dos alimentos in
natura) e a não remuneração do produto não comercializado, entre outras.
Além disso, faz uso de margens altas para o aumento da lucratividade, o que
dificulta a venda e elitiza o consumo de alimentos orgânicos. Por outro lado, o
supermercado permite que uma fatia de consumidores urbanos descubra o produto
orgânico, tornando-o mais conhecido e acessível.
A venda direta e as feiras são
propostas eficazes para o fortalecimento de associações de agricultores
orgânicos. Porém, há dificuldades, como a distância dos centros consumidores,
as condições das estradas e a exigência tanto de habilidade para o comércio
quanto de tempo disponível do agricultor para a venda. Destaca-se que esse
circuito é voltado para um consumidor já sensibilizado para o consumo e a
compra de alimentos orgânicos de produção local, havendo alguma dificuldade de
ampliar o número de envolvidos. Por outro lado, as vendas diretas promovem um
estreitamento com os consumidores, fidelizando-os cada vez mais à proposta da
agricultura orgânica e sustentável. Além disso, a ausência de intermediação
permite uma maior apropriação, pelos agricultores, dos resultados de seu
trabalho, em termos de renda.
Além disso, temos como causa do
alto preço a lei da oferta e da procura, pois por ter baixa demanda, o alimento
orgânico ainda não é competitivo no grande mercado. É necessária, portanto, a
conscientização e o incentivo da população ao consumo dos alimentos orgânicos. Ao
adquirir esse tipo de alimento, o consumidor passa a contribuir para o
fortalecimento e a viabilidade da agricultura familiar. Essa é uma contribuição
social do consumidor socioambientalmente consciente: ao buscar produtos
orgânicos, ele assume um papel decisivo nesse contexto de transição.
Referências:
http://www.aiaf2014.gov.br/aiaf/noticias/agricultura-familiar-%C3%A9-protagonista-na-produ%C3%A7%C3%A3o-de-alimentos-saud%C3%A1veis
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222003000200011&lng=pt&nrm=iso
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252013000300018&script=sci_arttext
http://www.fetrafsul.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2873:qa-agricultura-familiar-produz-saudeq&catid=1:ultimas-noticias&Itemid=104