domingo, 26 de outubro de 2014

Alimentos orgânicos e agricultura familiar


Discutiu-se, até o momento, algumas ferramentas da produção em massa de alimentos (agrotóxicos e transgênicos), utilizados para o aumento da eficácia da fabricação de alimentos. Viu-se, também, como os mesmos tem sérias consequências para o organismo. Hoje, falaremos de um fenômeno que vai no sentido contrário à massificação da produção: o cultivo de alimentos orgânicos, atrelado à agricultura familiar.

Os alimentos orgânicos são definidos como aqueles alimentos in natura ou processados que são oriundos de um sistema orgânico de produção agropecuária e industrial. A produção de alimentos orgânicos é baseada em técnicas que dispensam o uso de insumos como pesticidas sintéticos (agrotóxicos), fertilizantes químicos, medicamentos veterinários, organismos geneticamente modificados (transgênicos), conservantes, aditivos e irradiação. O controle de uma grande safra se torna mais difícil sem os insumos citados, por isso esse tipo de produção geralmente é feito quando em menor escala, daí a ligação entre agricultura familiar e o cultivo de orgânicos. 


Fonte desses alimentos mais saudáveis, a agricultura familiar pode ser a chave para mudar o atual cenário de consumo de alimentos congelados, fast food, frituras e refeições ricas em sódio. E por causa da importância desse setor, 2014 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional da Agricultura Familiar, com o objetivo de aumentar a visibilidade ao setor, já que ele contribui para a erradicação da pobreza e da fome, promove a segurança alimentar e nutricional, melhora os meios de subsistência e colabora na gestão dos recursos naturais.

Têm-se como ponto negativo para o consumo dos alimentos orgânicos o preço ainda alto, correspondente a 20 a 100% a mais que os produtos de origem convencional. Aspectos relativos à comercialização precisam ser analisados no sentido de impulsionar a comercialização dos orgânicos, já que o preço dificulta a acessibilidade. É preciso, entre outros, entender o confronto entre o grande circuito de comercialização (o de supermercados) e os circuitos curtos (de feiras e venda direta). 

O grande circuito impõe ao agricultor barreiras como a padronização e a incorporação de serviços aos produtos (uso de embalagens plásticas ou isopor), contratos regulares de entrega (nem sempre possíveis em função da sazonalidade dos alimentos in natura) e a não remuneração do produto não comercializado, entre outras. Além disso, faz uso de margens altas para o aumento da lucratividade, o que dificulta a venda e elitiza o consumo de alimentos orgânicos. Por outro lado, o supermercado permite que uma fatia de consumidores urbanos descubra o produto orgânico, tornando-o mais conhecido e acessível. 

A venda direta e as feiras são propostas eficazes para o fortalecimento de associações de agricultores orgânicos. Porém, há dificuldades, como a distância dos centros consumidores, as condições das estradas e a exigência tanto de habilidade para o comércio quanto de tempo disponível do agricultor para a venda. Destaca-se que esse circuito é voltado para um consumidor já sensibilizado para o consumo e a compra de alimentos orgânicos de produção local, havendo alguma dificuldade de ampliar o número de envolvidos. Por outro lado, as vendas diretas promovem um estreitamento com os consumidores, fidelizando-os cada vez mais à proposta da agricultura orgânica e sustentável. Além disso, a ausência de intermediação permite uma maior apropriação, pelos agricultores, dos resultados de seu trabalho, em termos de renda. 

Além disso, temos como causa do alto preço a lei da oferta e da procura, pois por ter baixa demanda, o alimento orgânico ainda não é competitivo no grande mercado. É necessária, portanto, a conscientização e o incentivo da população ao consumo dos alimentos orgânicos. Ao adquirir esse tipo de alimento, o consumidor passa a contribuir para o fortalecimento e a viabilidade da agricultura familiar. Essa é uma contribuição social do consumidor socioambientalmente consciente: ao buscar produtos orgânicos, ele assume um papel decisivo nesse contexto de transição.

Referências:

http://www.aiaf2014.gov.br/aiaf/noticias/agricultura-familiar-%C3%A9-protagonista-na-produ%C3%A7%C3%A3o-de-alimentos-saud%C3%A1veis

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222003000200011&lng=pt&nrm=iso

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252013000300018&script=sci_arttext

http://www.fetrafsul.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2873:qa-agricultura-familiar-produz-saudeq&catid=1:ultimas-noticias&Itemid=104

sábado, 18 de outubro de 2014

A incerteza dos trangênicos


Na semana passada, foram discutidas, aqui no blog, as consequências da utilização de agrotóxicos na produção de alimentos. Hoje, as explanações serão sobre a fabricação de transgênicos, quais as polêmicas desta e quais as consequências geradas para a saúde dos consumidores.


Os alimentos transgênicos são definidos como “aqueles cujo genoma foi modificado com o objetivo de atribuir-lhes nova característica ou alterar alguma característica já existente, através da inserção ou eliminação de um ou mais genes por técnicas de engenharia genética” (Marinho, 2003). Algumas das características buscadas são: o aperfeiçoamento da qualidade; a resistência a pragas e doenças; a maior adaptabilidade a condições climáticas adversas; a melhoria das características agronômicas, permitindo uma melhor adaptação às exigências de mecanização; a domesticação de novas espécies; e como objetivo final, o aumento do rendimento.


Assim como na justificativa da utilização de agrotóxicos, utiliza-se o argumento da solução para fome atual e futura para a produção de alimentos geneticamente modificados (AGM). Mas, como foi explicitado na postagem anterior, a fome não é fruto da falta de alimentos disponíveis para consumo e sim da desigualdade social das populações ao redor do mundo. A fome existe, pois os que passam por ela não têm recursos suficientes para comprar alimentos. Quem produz os alimentos não está interessado em resolver o problema da fome mundial, está interessado em lucrar. Com esse interesse, tem-se um mascaramento das reais consequências dos AGM para a saúde dos consumidores, feito pelas grandes empresas. Elas conseguem aprovar a comercialização de alimentos transgênicos através de jogos políticos e econômicos, sem aplicar testes suficientes, que comprovassem a inofensividade desses alimentos para o corpo humano. Os testes que tentaram verificar se esse tipo de produto era seguro acabaram sendo silenciados, como exemplifica Jeffrey Smith, ativista contra os alimentos geneticamente modificados:

“Documentos internos do FDA, que vieram a público devido a uma ação judicial, revelaram que os cientistas da agencia alertaram para o fato de que alimentos GM poderiam criar toxinas, alergias, problemas nutricionais e novas doenças que podem ser difíceis de identificar. Embora eles tenham insistido com seus superiores para que exigissem testes de longo prazo para cada variedade GM antes da sua aprovação, os diretores em cargos de confiança da agencia, incluindo um ex-advogado da Mosanto, ignoraram os cientistas. As políticas oficiais alegam que esses alimentos não são diferentes em nada e, portanto, não exigem testes de segurança. Os fabricantes podem introduzir um alimento GM sem nem mesmo informar ao governo ou aos consumidores.”

“Em estudos não publicados sobre o tomate FlavrSavr, ratos de laboratório alimentados com essa safra GM desenvolveram lesões estomacais, e sete dos quarenta ratos morreram em duas semanas. O tomate foi aprovado sem testes adicionais.”


Esses foram apenas dois dos casos citados por Jeffrey em sua conferência apresentada à Câmara dos Deputados no Brasil, no ano de 2003, demonstrando o desinteresse da indústria alimentícia em testar a segurança alimentar dos alimentos transgênicos. Usa-se, então, a desculpa da chamada Equivalência Substancial (ES), segundo a qual o organismo geneticamente modificado, sendo similar a sua contraparte convencional, é considerado substancialmente equivalente, inexistindo, portanto, razões para considera-lo perigoso. Esse argumento é falho, pois, apesar da similaridade, inúmeros são os riscos:
  •    A monopolização das sementes pode causar a diminuição da disponibilidade de alimentos, já que as sementes dos AGM pertencem a uma pequena quantidade de multinacionais. Isso faria com que houvesse uma monopolização do mercado de sementes, tornando os agricultores dependentes dessas empresas.   
  •  As incertezas da engenharia genética, devido à falta de teste suficientes. Isso provoca uma alta probabilidade de efeitos imprevistos e indesejáveis.        
  • O receio de uma possível resistência bacteriana aos antibióticos empregados na modificação genética. Utilizam-se genes marcadores de resistência a antibióticos, cuja função é selecionar e confirmar se a alteração genética foi de fato realizada da maneira planejada. No entanto, discute-se que tais genes podem continuar a ser expressos nos tecidos da planta e, ao serem ingeridos através dos alimentos, reduziriam, no homem, a eficácia do antibiótico comumente administrado no combate a doenças. Argumenta-se também que esses genes de resistência poderiam ser transferidos a patógenos humanos ou animais, tornando nulo o efeito da aplicação de certos antibióticos. 
  •  A alergenicidade é um importante risco a ser analisado, considerando-se que os alergênicos alimentares são proteínas que podem ser oriundas de genes endógenos ou exógenos.
Essas são apenas algumas consequências do uso de AGM’s. Percebe-se a necessidade da imposição governamental de maior número de testes para se determinar os reais efeitos dos transgênicos e se os mesmos devem ou não ser comercializados. A cada nova variedade produzida, numerosos testes deveriam ser realizados, antes que esse alimento desconhecido seja colocado no prato do consumidor. 

Referências:

JEFFREY, M. Smith. Perigo dos alimentos manipulados geneticamente. In: Zanoni, Magda (Org.). Transgênicos, terapia genética, células-tronco: questões para a ciência e para a sociedade. Brasília: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. p.25-33. (NEAD Debate, 1). 2004. 

CAMARA, M. C. C. et al. Transgênicos: avaliação da possível (in)segurança alimentar através da produção científica. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702009000300006&script=sci_arttext

CAVALLI, S. B. Segurança alimentar: a abordagem dos alimentos transgênicos. Campinas, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732001000400007&script=sci_arttext